quarta-feira, 21 de março de 2012

Uma pequena, mas real, história...

«Eu lembro-me de uma vez, no sítio onde eu moro, estávamos na rua entre amigos e apareceu um bêbedo que costumava espancar a mulher. A mulher entretanto surgiu e ele decidiu ir para casa, ao mesmo tempo que a tentou obrigar a ir também, mas ela pediu para ficar connosco. Era uma cota de setenta e tal anos. O marido, desde que tinha vindo da guerra colonial, transformou-se completamente. Ou seja, ela permanecia com ele porque guardava aquele amor da adolescência dela. Assim, a mulher começou a contar-nos a vida dela... que tinha crescido numa família rica, era uma mulher de posses, apesar de hoje em dia já não ter nada porque o marido a conduziu à ruína. E a mulher escrevia poemas. Para dizer a verdade, a única coisa que a mulher tinha na vida era a recordação de um amor, numa carteira cheia de poemas dela. Mas poemas muito frios, a falar de espancamentos e violência. E ela não sabia que eu cantava, nem sabia quem eu era. Eu tinha sido o rapaz que lhe tinha emprestado o casaco porque estava frio e não queria que ela fosse para casa porque sabia que o marido lhe ia bater. Às tantas eu disse-lhe que cantava rap e expliquei-lhe o que era, porque ela não conhecia. Disse-lhe que era ritmo e poesia, à semelhança dos poemas que ela fazia, mas de uma forma cantada. E com o enquadramento que ela me deu, cantei-lhe a vida dela em rap. A mulher agarrou-se a mim a chorar. Foi o melhor improviso que dei até hoje, apesar de só o meu grupo de amigos ter ouvido, é isso que me dá prazer no rap e no improviso. Conseguir aquele sorriso, aquele abraço... Apesar dela estar a chorar, tinha um sorriso mesmo lindo. Abraçou-me e disse "este foi o melhor dia da minha vida". Uma mulher de setenta e tal anos dizer-me isso, marcou-me completamente.»  DEAU


retirado de uma entrevista do www.h2tuga.net

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